Cinderela Baiana e a cena mais constrangedora do cinema brasileiro
1998, Carla Perez, Comédia, Conrado Sanchez, Crítica, Drama, Filme Tosco, Lazaro Ramos, Musical, Nacional, ResenhaNos idos de 1998, tudo caminhava para o fim do mundo. Para alguns, a Terra não chegaria aos anos 2000 (segundo alguma profecia de Nostradamus, dos Maias ou da bíblia, não sei ao certo). Já outros imaginavam que uma pane geral dos computadores, exatamente no dia 01/01/2000, faria com que todas as bombas nucleares da antiga União Soviética fossem lançadas ao mesmo tempo. De qualquer forma, não sobraria nada.
Como um prenúncio do fim dos tempos, Conrado Sanchez decidiu roteirizar e dirigir um conto de fadas brasileiro, baseado na vida e obra da grande estrela da TV brasileira (de 1998): a dançarina, apresentadora e "atriz" Carla Perez.
Cinderela Baiana é um daqueles clássicos instantâneos. Uma comédia involuntária sem precedentes. Tudo é muito ruim. Nada se salva. A protagonista "interpreta" a si mesma, e da pior forma possível. Na frente das câmeras de cinema, Carla Perez demonstra a mesma falta de jeito que tinha como apresentadora do programa Fantasia (SBT, é claro).
A fórmula do filme era simples: se o povão não se cansa de ver Carla rebolando domingo após domingo no Faustão e no Gugu (às vezes nos dois ao mesmo tempo), ele vai lotar às salas de cinema para ver a história de superação desta verdadeira Cinderela do nordeste. Não tinha como o plano dar errado.
Acontece que uma coisa é você estar vegetando em um domingo, na frente da TV, ouvindo Faustão e Gugu falarem suas costumeiras abobrinhas e, durante este momento de letargia, ver o É o Tchan e seu trio de dançarinos desfilando músicas do naipe de: "Bota a mão no joelho / E dá uma abaixadinha / Vai mexendo gostoso / Balançando a bundinha". Outra coisa é levantar o traseiro gordo do sofá, pegar um ônibus, enfrentar fila na bilheteria e desembolsar uma grana para assistir a este mesmo espetáculo em um cinema.
E assim, Cinderela Baiana foi um fracasso estrondoso de público, o que interrompeu precocemente a promissora carreira cinematográfica de sua atriz principal. Além disso, a reação do público demonstrou o que era óbvio, não adianta simplesmente pegar o que faz sucesso na TV e jogar no cinema. Tem que ter história, cuidado com a produção, divulgação decente, exatamente o contrário de tudo o que foi feito.
Quem está lendo este texto deve estar se perguntando se o filme é mesmo tão ruim. Já posso até imaginar os comentários que virão. Crítico é tudo chato. Você tem preconceito com o cinema nacional. Você nem entende nada de cinema, tá falando o quê? Deixa a menina trabalhar.
Bom, nenhum argumento vai corroborar minha opinião melhor do que o vídeo dos minutos finais de Cinderela Baiana. Tem de tudo: a Carla Perez chegando em um carro que deve ter custado mais do que toda a produção do filme, lição de moral, discurso contra o trabalho infantil, libertação de pássaros que estavam presos na gaiola, o figurino da protagonista que lembra uma odalisca hippie prestes a fazer oferendas a Iemanjá na véspera do ano novo...
Quando você acha que não pode piorar, começa a tocar Segura o Tchan e aí vira circo. As crianças dançam, vendedoras de acarajé dançam, freiras dançam, Lázaro Ramos dança... A cereja do bolo é um helicóptero que aparece do nada e pousa atrás do grupo, dele descem 6 policiais de armas na mão que se juntam ao grupo. Inexplicável.
Depois de assistir a esses 3 minutos de Cinderela Baiana é difícil não falar: “Em que diabos eles estavam pensando?”.
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Autor: Grandes Filmes - @grandesfilmes Criador e revisor do blog dos Grandes Filmes. Viciado em cinema e nerd incorrigível. |