Os filmes de Hayao Miyazaki no Brasil
Ale Camargo, animação, Hayao Miyazaki, Resenha, TextoApesar do cineasta japonês Hayao Miyazaki ter criado alguns dos melhores filmes de animação da história, o acesso aos seus filmes por aqui sempre foi muito difícil. Grandes clássicos, como Meu Vizinho Totoro (Tonari No-Totoro, 1988), foram lançados apenas em VHS, em edição limitadíssima e sem qualquer alarde, há muitos anos atrás.
Outros, como o épico Princesa Mononoke (Mononoke-Hime, 1997) , ou o genial Laputa – Castelo no Céu (Tenkū no Shiro Rapyuta, 1986) permanecem inéditos por aqui.
Claro que sempre há a esperança de que alguma distribuidora perceba essa falha inexplicável, e a exemplo do que foi feito nos EUA lance no Brasil toda a obra desse mestre do cinema (estou falando com vocês, Focus Filmes e Playarte!).
Mas não há nada realmente concreto nesse momento, e enquanto esse dia não chega nós, os fãs de animação, não temos muitas opções dentro da legalidade. Ou importamos esses títulos do mundo lá fora por preços exorbitantes, ou contamos com a sorte e caçamos nas lojas o que for lançado. E o termo “caçada” é uma boa analogia, já que os poucos lançamentos costumam ser difíceis de encontrar, e desaparecer logo.
Assim, segue uma lista cronológica dos filmes do Mestre Miyazaki atualmente disponíveis no Brasil. São apenas uma pequena mostra da obra dele, mas são uma ótima chance de rever alguns de seus trabalhos, e conhecer um pouco de sua história.
1-) As Aventuras de Panda e Seus Amigos (Panda Kopanda, 1972) - Focus Filmes
Escrito e com direção de animação de Hayao Miyazaki, o filme é na verdade dirigido por Isao Takahata (seu sócio no Estúdio Ghibli, e diretor de outros filmes de animação brilhantes e inéditos por aqui, como Cemitério dos Vagalumes e Only Yesterday)
Composto por duas histórias de média-metragem, o filme traz o Panda do título e seu filhote indo morar na casa de Mimiko, uma jovem orfã. Com humor ingênuo e situações divertidas, é fácil perceber aqui vislumbres da obra posterior de Miyazaki (o Panda que é um protótipo do Totoro, uma enchente que lembra o filme Ponyo, etc).
2-) O Castelo de Cagliostro (Rupan Sansei: Kariosutoro no Shiro, 1979) - Focus Filmes
Primeiro longa metragem dirigido por Miyazaki, “Cagliostro” é uma aventura com toques de comédia, e com muito charme. Recheado de cenas de ação, conta a história de Lupin III (um ladrão e trambiqueiro internacional ) que, juntamente com seu amigo e parceiro Daisuke, se envolve numa aventura para resgatar a jovem Clarisse num pequeno país europeu.
O filme é famoso pela maneira como as cenas de ação são criadas, e pode-se notar o amor de Miyazaki por carros antigos na meticulosidade com que ele produz a perseguição dos pequenos automóveis pela estrada sinuosa nas montanhas.
Com heróis canalhas-porém-de-bom-coração , vilões à moda antiga, uma dama em perigo, e uma mistura hábil de humor e aventura, “O Castelo de Cagliostro” faz jus à fama do seu criador, e serve como um excelente preâmbulo para os outros filmes que viriam.
3-) A Viagem de Chihiro (Sen to Chihiro no Kamikakushi, 2001) - Europa Filmes
Para muitos, este foi o primeiro contato com a obra de Miyazaki. O filme ganhou, merecidamente, o Oscar de Melhor Animação em 2002, bem como o Urso de Ouro de Melhor Filme no Festival de Berlin, em 2002.
Surreal, mágico, belíssimo. Conta a história da jovem Chihiro, que se vê perdida num mundo paralelo ao nosso, habitado por espíritos e fantasmas. O filme já foi comparado com Alice no País das maravilhas, mas a história possui características muito especiais, remetendo também a lendas antigas, e ao folclore japonês.
A direção de arte é rica, e as cores e quantidade de detalhes nos cenários e personagens formam com perfeição um mundo de sonhos – lindo, porém assustador. Além disso, detalhes como a jovem Chihiro descendo correndo a longa escadaria quebrada devem servir como um tapa na cara para quem acha que a animação japonesa é “simples”.
Além disso, o DVD nacional conta com um ótimo making of, que mostra detalhadamente a produção, e o dia-a-dia no Estúdio Ghibli (além de trailers, e notas sobre a produção).
4-) O Castelo Animado (Hauru no Ugoku Shiro, 2004) – PlayArte
Uma espécie de sequência espiritual de Viagem de Chihiro, o filme trata de um dos temas favoritos de seu criador (as dificuldades do crescimento e da maturidade), ao contar a história de Sophie, uma jovem costureira que é enfeitiçada e transformada numa idosa de 90 anos.
O filme , indicado ao Oscar em 2006, é uma das produções com maior orçamento já realizado pelo Estúdio Ghibli. Isso fica claro nas intrincadas cenas de multidão, e nas cenas de guerra.
O DVD nacional (da PlayArte) possui um interessante documentário sobre como eles usaram CG para produzir o Castelo Móvel de Howl, e outros cenários.
5-) Ponyo – Uma Amizade que Veio do Mar (Gake no Ue no Ponyo, 2008) – PlayArte
Nesses tempos após a tragédia envolvendo o Japão , talvez a tsunami que se abate sobre a cidade dos protagonistas durante o filme provoque uma sensação um pouco estranha. Mas Ponyo definitvamente não é sobre tristeza – é uma história sobre amizade , magia e amor.
O filme conta a história de Sosuke, um garoto de 5 anos, que descobre na praia um peixe dourado (que é na verdade Ponyo, uma das filhas de Fujimoto, um feiticeiro que vive no fundo do mar).
Numa reação ao excesso de CG nos filmes animados, Hayao Miyazaki produziu um filme que é uma volta às origens da técnica 2D. Os fundos são pintados com lápis colorido e aquarela, e o oceano é inteiramente animado à mão (criando um efeito sensacional). As cenas submarinas são um espetáculo à parte.
Ponyo é um filme infantil, mas no melhor sentido do termo. Miyazaki diz que se inspirou no conto original de Hans Christian Andersen de A Pequena Sereia, bem como no seu neto. Mas ele foi muito além, criando aqui uma fábula moderna mas que já nasce clássica.
Por fim, o filme foi lançado aqui pela PlayArte, em DVD e Blu-Ray. Vamos torcer que esse seja o começo da virada, e que o público brasileiro finalmente tenha acesso à toda obra de Hayao Miyazaki.
Outros, como o épico Princesa Mononoke (Mononoke-Hime, 1997) , ou o genial Laputa – Castelo no Céu (Tenkū no Shiro Rapyuta, 1986) permanecem inéditos por aqui.
Claro que sempre há a esperança de que alguma distribuidora perceba essa falha inexplicável, e a exemplo do que foi feito nos EUA lance no Brasil toda a obra desse mestre do cinema (estou falando com vocês, Focus Filmes e Playarte!).
Mas não há nada realmente concreto nesse momento, e enquanto esse dia não chega nós, os fãs de animação, não temos muitas opções dentro da legalidade. Ou importamos esses títulos do mundo lá fora por preços exorbitantes, ou contamos com a sorte e caçamos nas lojas o que for lançado. E o termo “caçada” é uma boa analogia, já que os poucos lançamentos costumam ser difíceis de encontrar, e desaparecer logo.
Assim, segue uma lista cronológica dos filmes do Mestre Miyazaki atualmente disponíveis no Brasil. São apenas uma pequena mostra da obra dele, mas são uma ótima chance de rever alguns de seus trabalhos, e conhecer um pouco de sua história.
1-) As Aventuras de Panda e Seus Amigos (Panda Kopanda, 1972) - Focus Filmes
Escrito e com direção de animação de Hayao Miyazaki, o filme é na verdade dirigido por Isao Takahata (seu sócio no Estúdio Ghibli, e diretor de outros filmes de animação brilhantes e inéditos por aqui, como Cemitério dos Vagalumes e Only Yesterday)
Composto por duas histórias de média-metragem, o filme traz o Panda do título e seu filhote indo morar na casa de Mimiko, uma jovem orfã. Com humor ingênuo e situações divertidas, é fácil perceber aqui vislumbres da obra posterior de Miyazaki (o Panda que é um protótipo do Totoro, uma enchente que lembra o filme Ponyo, etc).
2-) O Castelo de Cagliostro (Rupan Sansei: Kariosutoro no Shiro, 1979) - Focus Filmes
Primeiro longa metragem dirigido por Miyazaki, “Cagliostro” é uma aventura com toques de comédia, e com muito charme. Recheado de cenas de ação, conta a história de Lupin III (um ladrão e trambiqueiro internacional ) que, juntamente com seu amigo e parceiro Daisuke, se envolve numa aventura para resgatar a jovem Clarisse num pequeno país europeu.
O filme é famoso pela maneira como as cenas de ação são criadas, e pode-se notar o amor de Miyazaki por carros antigos na meticulosidade com que ele produz a perseguição dos pequenos automóveis pela estrada sinuosa nas montanhas.
Com heróis canalhas-porém-de-bom-coração , vilões à moda antiga, uma dama em perigo, e uma mistura hábil de humor e aventura, “O Castelo de Cagliostro” faz jus à fama do seu criador, e serve como um excelente preâmbulo para os outros filmes que viriam.
3-) A Viagem de Chihiro (Sen to Chihiro no Kamikakushi, 2001) - Europa Filmes
Para muitos, este foi o primeiro contato com a obra de Miyazaki. O filme ganhou, merecidamente, o Oscar de Melhor Animação em 2002, bem como o Urso de Ouro de Melhor Filme no Festival de Berlin, em 2002.
Surreal, mágico, belíssimo. Conta a história da jovem Chihiro, que se vê perdida num mundo paralelo ao nosso, habitado por espíritos e fantasmas. O filme já foi comparado com Alice no País das maravilhas, mas a história possui características muito especiais, remetendo também a lendas antigas, e ao folclore japonês.
A direção de arte é rica, e as cores e quantidade de detalhes nos cenários e personagens formam com perfeição um mundo de sonhos – lindo, porém assustador. Além disso, detalhes como a jovem Chihiro descendo correndo a longa escadaria quebrada devem servir como um tapa na cara para quem acha que a animação japonesa é “simples”.
Além disso, o DVD nacional conta com um ótimo making of, que mostra detalhadamente a produção, e o dia-a-dia no Estúdio Ghibli (além de trailers, e notas sobre a produção).
4-) O Castelo Animado (Hauru no Ugoku Shiro, 2004) – PlayArte
Uma espécie de sequência espiritual de Viagem de Chihiro, o filme trata de um dos temas favoritos de seu criador (as dificuldades do crescimento e da maturidade), ao contar a história de Sophie, uma jovem costureira que é enfeitiçada e transformada numa idosa de 90 anos.
O filme , indicado ao Oscar em 2006, é uma das produções com maior orçamento já realizado pelo Estúdio Ghibli. Isso fica claro nas intrincadas cenas de multidão, e nas cenas de guerra.
O DVD nacional (da PlayArte) possui um interessante documentário sobre como eles usaram CG para produzir o Castelo Móvel de Howl, e outros cenários.
5-) Ponyo – Uma Amizade que Veio do Mar (Gake no Ue no Ponyo, 2008) – PlayArte
Nesses tempos após a tragédia envolvendo o Japão , talvez a tsunami que se abate sobre a cidade dos protagonistas durante o filme provoque uma sensação um pouco estranha. Mas Ponyo definitvamente não é sobre tristeza – é uma história sobre amizade , magia e amor.
O filme conta a história de Sosuke, um garoto de 5 anos, que descobre na praia um peixe dourado (que é na verdade Ponyo, uma das filhas de Fujimoto, um feiticeiro que vive no fundo do mar).
Numa reação ao excesso de CG nos filmes animados, Hayao Miyazaki produziu um filme que é uma volta às origens da técnica 2D. Os fundos são pintados com lápis colorido e aquarela, e o oceano é inteiramente animado à mão (criando um efeito sensacional). As cenas submarinas são um espetáculo à parte.
Ponyo é um filme infantil, mas no melhor sentido do termo. Miyazaki diz que se inspirou no conto original de Hans Christian Andersen de A Pequena Sereia, bem como no seu neto. Mas ele foi muito além, criando aqui uma fábula moderna mas que já nasce clássica.
Por fim, o filme foi lançado aqui pela PlayArte, em DVD e Blu-Ray. Vamos torcer que esse seja o começo da virada, e que o público brasileiro finalmente tenha acesso à toda obra de Hayao Miyazaki.
Autor: Alê Camargo - @bubafilmes Alê Camargo é roteirista, diretor de animação e leciona animação 3d na Pós Graduação da Universidade Anhembi Morumbi. |