O que faz um filme clássico ser um clássico?
Carol Bull, Christopher Nolan, Francis Ford Coppola, Glauber Rocha, Melhores Filmes, Michael Curtiz, Orson Welles, Robert Zemeckis, Stanley Kubrick, Steven Spielberg, Texto, Top 15, Victor Fleming, Woody AllenSegundo o detentor de todo conhecimento mundial, o senhor onipotente Google, uma das definições para o termo clássico é “autor ou obra que pode servir de modelo, cujo valor é universalmente reconhecido”. Costumamos estudar os autores “clássicos” na escola, ler sobre a arquitetura “clássica” em revistas, assistir aos “clássicos” do futebol na televisão. Mas quando se fala de filmes clássicos, as coisas se embaralham um pouco.
Isso porque cada um de nós temos as obras que consideramos clássicas. Nossos preferidos estão no topo da lista, e fazemos uma confusão de títulos e atores. Além disso, muitos entendem a expressão "filme clássico" como filme antigo, o que não é verdade. Muitos dos antigos são clássicos, mas isso só porque eles já estão a mais tempo no limbo do cinema, já receberam muitas críticas e foram incessantemente estudados. Acabam se tornando clássicos com o passar do tempo, porque marcaram uma época ou inovaram em algum aspecto. Por exemplo, A Origem já é considerado um clássico, mesmo sendo um filme de 2010, enquanto De Volta Para o Futuro (1985) demorou alguns anos para chegar a esse patamar.
Não sei se há como explicar melhor o que faz um filme clássico se tornar um clássico. Essa característica independe de sua produção, direção, bilheteria ou “idade”. Filmes clássicos são aqueles que se destacam, ou quando são lançados ou por algo que só é identificado posteriormente. Eles inovam em fotografia, ou na linguagem, ou no conteúdo, ou em qualquer outra parte da obra.
Por isso, achei muito conveniente fazer uma lista com alguns exemplos para ilustrar o que digo. Ela está em ordem cronológica, e eu espero que consiga me fazer entender.
1- ... E o Vento Levou (Gone with the Wind, de Victor Fleming, 1939): Adaptação de um livro homônimo. Uma mocinha muito safada, que acaba virando enfermeira e sente na pele a dor e a fome na guerra. Com um casamento por interesse e um final inesperado, este filme encabeça muitas listas de clássicos e marcou sua época, ganhando vários prêmios e chocando os conservadores.
2 - Cidadão Kane (Citizen Kane, de Orson Welles, 1941): Um filme muito interessante, que mesmo antes de ser lançado já era controverso. Revolucionou as técnicas narrativas e de enquadramento, e se tornou uma grande herança para o cinema. Ao inverter a narrativa, Orson Welles criou um mito do cinema, considerado o melhor da história pelo American Film Institute.
3 - Casablanca (Casablanca, de Michael Curtiz, 1942): Baseada em uma peça de teatro, o filme é norte-americano, se passa no Marrocos, e narra a história de europeus fugindo de cidades tomadas pelo nazismo. Entendeu? Ele é sempre lembrado por seus diálogos fortes e memoráveis, com um uso profundo de cinismo e ironias. A frase “Esse é o início de uma bela amizade” é dele, assim como a marcante “Sempre teremos Paris”. Além disso, ele contém muitos erros de continuidade, mas isso não impediu que ganhasse algumas estatuetas douradas e entrasse nesta lista! Um ótimo filme.
4 - Deus e o Diabo na Terra do Sol (Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha, 1964): Um nacional nos representando na lista. Este filme de Glauber Rocha é um dos muitos que revolucionaram a linguagem cinematográfica nacional, marcando não só o Cinema Novo, mas também toda a história do cinema. A trama não só é original, como a forma com que é contada é totalmente diferente. Glauber criou algo que nos causa espanto até hoje. Foi indicado para uma Palma de Ouro, em Cannes.
5 - Laranja Mecânica (A Clockwork Orange, de Stanley Kubrick, 1971): Adaptação de um livro homônimo. Apesar de ser um filme de baixo orçamento, ele contou com a direção de Stanley Kubrick, que é um gênio. Se passa numa Inglaterra futura, narrando a história de um jovem chamado Alex, que tem um gosto muito peculiar, fala um língua chamada nadsat e é líder de uma gang. Ele acaba passando por poucas e boas, é levado a uma espécie de tratamento mental e reinserido na sociedade. O filme tem forte cunho político, uma temática profundamente controversa e põe em cheque muitas questões de sua época.
6 - O Poderoso Chafão (The Godfather, de Francis Ford Coppola, 1972): Mais uma adaptação de um livro homônimo. Definitivamente um filme de peso pra história do cinema mundial, com Francis Ford Coppola na direção e nomes como Marlon Brando, Al Pacino, James Caan, Robert Duvall e Diane Keaton, só para citar alguns. Conta a história de uma família de mafiosos e de como é o funcionamento interno da máfia, uma espécie de família em que favor cumprido é favor cobrado. Não farei revelações, não há como explicar, tem que assistir. É um dos melhores filmes da história do cinema e vale muito a pena ver e rever muitas e muitas vezes.
7 - Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (Annie Hall, de Woody Allen, 1977): Uma comédia romântica para aliviar a tensão. Dirigida e estrelada por Woody Allen, conta a história de um humorista judeu que se apaixona por uma cantora em início de carreira, interpretada por Diane Keaton. Aliás, nesta época eles eram de fato um casal. O filme aborda modos de vida e comportamentos que começaram na década de 70 e continuam até os dias de hoje. Contrasta profundamente com seus contemporâneos no cinema norte-americano, muito mais sombrios e pesados que as crônicas engraçadas e românticas de Woody Allen.
8 - De Volta Para o Futuro (Back to the Future, de Robert Zemeckis, 1985): Uma ficção científica, mãe de todo o imaginário de uma geração sobre viagens no tempo. Marty McFly não é um cara muito inteligente, nem muito bonito, nem muito várias coisas, mas a simpatia com ele só aumenta durante o filme, principalmente porque ele é desses que só se ferra, principalmente quando se junta com o Dr. Brown. Esse filme começou a entrar para a lista de clássicos não tem nem 10 anos, e acredito que isso venha de uma mudança no cenário da crítica cinematográfica.
9 - A Lista de Schindler (Schindler's List, de Steven Spielberg, 1993): Adaptação do livro Schindler's Ark. Dirigido por Steven Spielberg, narra a história de Oskar Schindler, um tcheco do partido nazista que salva a vida de mais de mil judeus, ao contratá-los para trabalhar em sua fábrica. O filme foi profundamente aclamado pela crítica, seja pela sua temática, seja pela sua montagem, seja pelo “modo de fazer” de Spielberg. A obra é considerada uma das melhores realizações cinematográficas da década de 90 e foi filmado, em sua maior parte, em preto e branco, apresentando cores apenas em seu prólogo e epílogo, e a cor vermelha em duas cenas especiais. Para quem acha que isso é uma inovação recente, o este filme é imperdível.
10 - A Origem (Inception, de Christopher Nolan, 2010): O grande filme do ano passado já está nas listas mais atualizadas de clássicos. Uma obra com enredo surpreendente, fotografia maravilhosa e trilha sonora envolvente. Ele trabalha algumas questões muito abstratas, mas ao mesmo tempo bem presentes em nossas vidas, lidando com a matéria dos sonhos como algo palpável e o subconsciente como algo que pode ser trabalhado. Ele marcou o ano passado por todas as suas discussões, inovações e efeitos especiais mais que perfeitos. Um filme que valeu a pena ser visto na grande tela.
Assistiu a algum desses clássicos? O que é clássico para você? Quais são os seus filmes clássicos? Deixe seus comentários.
Autora: Carol Bull - @carolzinhabull Formada em Estudos de Mídia, faz pós-graduação em Arte e Cultura. É amante do cinema desde sempre. |