Propriedade Privada, de Joachim Lafosse, é um daqueles filmes que retratam o cotidiano de uma família de classe média, de maneira verossímil, com seus problemas rotineiros.
Porém, essa retratação vai muito além disso. Logo nas primeiras cenas conhecemos a rotina dessa família e a maneira como a mesma vive. É interessante pois percebemos a existência de um ar de insatisfação por parte de um de seus membros. E por que será? É totalmente natural que, em determinados momentos de nossas vidas, nos cansemos de tudo que nos cerca, principalmente de nós mesmos. E isto é, provavelmente, a intenção da história, mostrar o limite do ser humano.
Não é fácil para uma mãe divorciada cuidar de seus filhos quando os mesmos são pequenos. Porém, a tarefa se torna dura quando esses filhos já são adultos (pelo menos fisicamente, já que mentalmente eles se parecem de fato com crianças). Quando Pascale (Isabelle Huppert), com toda razão, decide seguir com a própria vida, o verdadeiro conflito da história se inicia, dando um novo sentido à trama.
Além do roteiro, os aspectos técnicos também chamam a atenção. Podemos destacar a cena da floresta onde não há nenhum som, e um momento em que Tierry e seu pai estão conversando e repentinamente (abaixo dos nossos olhos) ocorre a câmera subjetiva. Tudo isso para criar uma interativamente entre os personagens e o próprio espectador.
Já o aspecto psicológico dos personagens, que é um componente importante da história, é trabalhado de maneira coerente para que todos possam sentir os conflitos que cada um possui.
A estrutura narrativa segue uma linearidade clássica – muito comum na maioria dos filmes franceses – além de apresentar momentos oscilantes de maior e menor ação, com o conflito que só se inicia na partida de um personagem principal.
No fim,
Propriedade Privada é um drama muito humano que nos fala sobre a escolha de mudar a própria vida e enfrentar as consequências, mesmo correndo o risco de tudo voltar à estaca zero. Sempre ficará a pergunta se tudo aquilo valeu a pena, não é Pascale?